A construção de um caminho

Oscar D'Ambrósio, Jornalista e Mestre em Artes Visuais pela UNESP, integra a Associação Internacional de Criticos da Arte (AICA - Seção Brasil)

O escritor mineiro Murilo Rubião, cujos 20 anos de falecimento são lembrados em 2011, escreve "Se você não sabe onde ir, não importa o caminho". A frase pode ser uma das múltiplas portas de entrada para as gravuras do artista plástico Ricardo Amadasi, pois aponta sua maior qualidade: não se limitar nas pesquisas visuais.

Sua opção de trabalhar e expor as matrizes abre justamente um número infinito de caminhos. Ao lidar com princípios da escultura como moldes e fundição, e com o poder do buril, próprio da gravura, o criador consegue resultados onde o processo que se oferece ao observador é tão importante quanto a imagem atingida.

Surgem à moda dos muralistas mexicanos, grupos de pessoas com figuras que se repetem numa proporção épica. No entanto, a temática acaba por ficar em segundo plano perante o fascínio que cada matriz apresenta em termos de traços e gestos. Os cortes que abrem veias e nervuras criam tramas e texturas que conquistam o olhar.

Nas placas de resina, incisões alertam para o aprimoramento de uma técnica. Sobre a matriz, números, palavras e linhas fazem que o olhar se perca e se encontre continuamente na riqueza de detalhes e na manutenção do risco permanente de criar, negando qualquer acomodação.

Apresenta-se assim um mundo imaginário que exalta a vida e o amor entre os seres humanos. A repetição de certas figuras e os detalhes de cor estrategicamente colocados valorizam as matrizes como um universo plástico ao qual Amadasi dedica toda a atenção. Receptivo a alternativas, sua jornada é da abertura do olhar.

Os caminhos a que alude Murilo Rubião estão presentes nas obras do artista plástico. As veredas abertas na matriz indicam a existência de um caminho intuitivo que encontra um momento de extrema relevância por ser a cristalização de um percurso plástico que tem na experimentação uma de suas principais marcas.

Cada matriz é um caminho no universo de possibilidades que a arte propicia. Ao deixar se levar pela pesquisa, estabelece uma poética vigorosa, em que a delicadeza se cruza com o papel discursivo dos conjuntos. Assim num andar consciente, e ao mesmo tempo, errante, a gravura de Ricardo Amadasi, sobrevive e se eterniza.

Texto de Oscar D'Ambrósio

Consulte Ricardo Amadasi, A Construção de um Caminho, janeiro de 2011

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