ABC de Jorge

Dalila Teles Veras, Escritora e Poeta

Quando pensamos em uma obra de arte para ocupar este espaço, marcando nossos 10 anos de intensa atividade cultural, marcando, assim, nossa identidade como uma casa de livros, o escultor Ricardo Amadasi foi imediatamente lembrado, não só pela admiração que temos pela sua obra, como também pelo fato de acompanharmos de perto a sua trajetória e seu reconhecido talento. Quando o convidamos para executar uma escultura que representasse um escritor brasileiro que fosse especialmente significativo, o nome de Jorge Amado foi simultaneamente lembrado por todos nós e nem sequer foi cogitado nenhum outro nome que pudesse criar alguma dúvida. Haveria de ser Jorge Amado pelo símbolo fundador que representa, marca literária genuinamente brasileira e universal, haveria de ser Ricardo Amadasi, argentino de nascimento, igualmente brasileiro e universal, sobretudo por sua grande identificação com as questões sociais de nossa terra, tema constante em sua obra e, não por acaso, também na obra de Jorge Amado em torno da qual Ricardo Amadasi tanto se identifica.

Para o melhor entendimento de uma obra de arte é desejável que se entenda também o pensamento de seu autor, no caso desses dois grandes artistas, o escritor e o escultor, o da palavra e o da forma. Não é difícil perceber que ambos encaram a arte como forma de vida e atitude social, arte presente no momento presente, arte comungando com a humanidade.

Diz o pensador alemão Joseph Beuys que “pensar é esculpir”, e na esteira desta máxima nós podemos afirmar que Amadasi esculpe pensando e Jorge Amado esculpe escrevendo, o que significa dizer também que escreve pensando.

Um escritor que vai buscar na realidade de um povo as histórias e as personagens que o representam e o identificam e serão recortadas em forma de literatura, um escultor que, igualmente, tira da realidade os elementos para as formas de sua expressão, expressão poderosa neste caso, e que jamais deixa indiferente aquele que a contempla, obrigando-o a circular ao seu redor, observar-lhe os detalhes que a tornam única e refletir a respeito do quanto de humano há por detrás desta resina.

Trecho do texto ABC de Jorge de Dalila Teles Veras

Consulte Livro Alpharrabio 12 anos: uma história em curso – Santo André/SP – junho de 2004.

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